SII, uma explosão de emoções

Marisa Fonseca Diniz

Este artigo até poderia falar de algo engraçado, mas na verdade passa longe do contexto. Hoje, vamos falar de um problema recorrente, que muitas pessoas desconhecem por ser funcional e estar relacionado na maioria das vezes ao estresse e/ou a problemas emocionais.

Imagine uma pessoa ter que ir ao banheiro defecar diversas vezes ao dia ou passar mal toda vez que come algo? Em um primeiro momento pode até parecer uma intoxicação alimentar, no entanto, os medicamentos acabam não fazendo o efeito desejável para o problema fazendo com que a pessoa acometida pelo incomodo se veja forçada a buscar ajuda médica de um especialista em aparelho digestivo.

Depois de várias idas ao médico e fazer diversos exames, o indivíduo descobre que nada foi detectado nos relatórios médicos, e é justamente nessa hora que fica a dúvida do que de fato está acontecendo.

O indivíduo acometido por este mal pode sentir durante longos períodos de tempo os seguintes sintomas:

Quanto mais o tempo passa, maiores são as possibilidades dos sintomas se agravarem. Apenas um especialista é capaz de afirmar por exclusão, o que de fato a pessoa tem. O interessante é que estes sintomas não estão associados a nenhuma doença em específico, e sim a uma síndrome conhecida como a Síndrome do Intestino Irritável ou Síndrome do Colón Irritável ou apenas SII ou SCI.

Não há na história da medicina uma causa única para o surgimento desta síndrome, no entanto, há algumas suposições que auxiliam no diagnóstico, a saber:

Para se entender melhor as supostas causas do surgimento da síndrome, se faz necessário uma melhor explanação das citações acima. As paredes do intestino possuem diversas camadas musculares, que se contraem quando os alimentos se movem pelo trato digestivo. Quando há fortes e longas contrações ocorre o inchaço abdominal, as flatulências e a diarreia, que em muitos casos podem ser explosivas. Em contrapartida, quando as contrações intestinais são muito fracas elas retardam a passagem dos alimentos provocando a constipação com fezes secas e endurecidas.

O intestino é conhecido como o segundo cérebro do corpo humano devido à conexão próxima que há entre os órgãos. No entanto, quando há uma má comunicação entre ambos, o organismo emite sinais capazes de alterar todo processo digestivo. Esta falta de coordenação causa dores, diarreias, constipação e em alguns casos pode ocorrer uma intercalação entre diarreia e constipação por dias.

Há algumas particularidades no diagnóstico da SII em algumas pessoas, por exemplo, pode ser detectado através da colonoscopia com biopsia, um número maior de células do sistema imunológico nos intestinos causando episódios de fortes dores abdominais, aumento da flatulência e diarreia explosiva.

Muitas vezes a síndrome do intestino irritável é desencadeada por crises graves de gastroenterite, uma inflamação do revestimento das mucosas do estômago e dos intestinos grosso e delgado, sendo confundida por vezes como uma intoxicação alimentar. O desequilíbrio da microbiota intestinal favorece o crescimento exacerbado das bactérias no intestino irritando a mucosa e alterando dessa maneira todo o fluxo intestinal.

Principais gatilhos da síndrome, a saber:

Apesar da medicina não saber quais são os principais fatores de risco para que a síndrome se manifeste, há alguns itens citados acima, que desencadeiam as crises e em alguns casos até agravam. A intolerância e alergia alimentar pode ser um dos fatores principais, no entanto, não se tem total certeza disso, uma vez que, nem todos os pacientes relatam problemas ao ingerirem alguns tipos de alimentos. No mais, as principais intolerâncias ou alergias alimentares são o trigo (glúten), laticínios, feijão, couve, brócolis, frutas cítricas, leite (lactose), refrigerantes, açúcar e carboidratos, que causam desconforto abdominal frequente. A baixa qualidade de nutrientes na alimentação, além de hábitos errados influencia diretamente no problema, ou seja, o consumo de frituras, gorduras, condimentos e a falta do hábito em beber água podem agravar o problema.

Sabe-se que as mulheres são mais propensas a desenvolver a síndrome principalmente nos períodos anterior e posterior a menopausa devido à reposição hormonal com estrogênio. No entanto, não se pode afirmar com certeza, pois a SII também atinge homens, crianças e adolescentes de ambos os sexos. Apesar de que muitas pessoas passam tendo crises por anos sem ter um diagnóstico claro antes da fase adulta.  

Acredita-se que a genética familiar pode ser fator desencadeante para a manifestação da SII, além de uma ligação direta com os problemas emocionais, tais como o estresse, a ansiedade e a depressão.

A síndrome do intestino irritável não tem cura, no entanto, controlar os altos níveis hormonais, diminuir os níveis de estresse com terapia e relaxamento e fazer uma dieta FODMAP podem ajudar a diminuir os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A dieta FODMAP consiste em remover da alimentação todos os alimentos que possuem alto teor de frutose, lactose, fruto-oligossacarídeos e galacto-oligossacarídeos e álcoois de açúcar, ou seja, todos os alimentos que fermentam.

Até 20% da população mundial sofre com a Síndrome do Intestino Irritável baseado nestes dados, um grande estudo foi realizado em dezembro de 2021 pela Chalmers University of Technology e pela Uppsala University, na Suécia, onde não mostra a relação entre a alta ingestão de glúten e o aumento dos sintomas da SII. Os pesquisadores descobriram que um determinado tipo de carboidrato conhecido como fodmaps (fermentação) pode agravar os problemas intestinais, no entanto, os resultados gerais indicam que eles também têm menos influência do que se achava anteriormente (Acesse aqui o link do estudo).

Pesquisadores da KU Leuven identificaram o mecanismo biológico, que explica por que alguns indivíduos sentem fortes dores abdominais quando comem determinados alimentos. A descoberta pode ajudar no tratamento mais adequado da SII e de outras intolerâncias alimentares.

A pesquisa publicada em janeiro de 2021 na Revista Nature revelou os mecanismos que conectam certos alimentos com a ativação das células que liberam a histamina, conhecidas como mastócitos causando dor e desconforto abdominal. Bloquear a histamina, componente importante do sistema imunológico, melhora os sintomas da SII, o que não acontece com um intestino saudável, uma vez que o sistema imunológico não reage aos alimentos, sendo o primeiro item a ser descoberto, que poderá causar a quebra da intolerância.

Os portadores de SII em geral relatam que os sintomas se iniciaram logo após terem tido uma infecção gastrointestinal como uma intoxicação alimentar, por exemplo, o que fez com que os pesquisadores tivessem a ideia de que a infecção pode ter começado quando um determinado alimento estava presente no intestino sensibilizando desta forma o sistema imunológico em relação a ele.

Durante o estudo científico, os pesquisadores infectaram camundongos com um problema estomacal e os alimentaram com a ovalbumina, um tipo de proteína encontrada na clara do ovo usada em experimentos como um antígeno alimentar modelo que provoca uma resposta autoimune. O que fez com que a infecção desaparecesse. Os camundongos por sua vez receberam uma nova dosagem de ovalbumina para verificar qual seria a reação do sistema imunológico. O sistema imunológico havia se tornado sensível à proteína provocando a ativação dos mastócitos, liberando dessa maneira a histamina e provocando intolerância digestiva com o aumento da dor abdominal. O mesmo problema não ocorreu nos camundongos que não foram infectados e nem receberam ovalbumina. Por sua vez, a resposta imune ocorreu apenas na parte do intestino infectada pelas bactérias disruptivas.

Segundo, o professor Boeckxstaens, responsável pela pesquisa, especula que este fato aponte para um espectro de doenças imunológicas relacionadas à alimentação, onde há uma resposta imune a um antígeno alimentar como o que acontece na SII. (Leia na integra a pesquisa acessando este link).

A salvação para as dores abdominais, que acomete várias pessoas com síndrome do intestino irritável pode estar no veneno da tarântula. Só quem sofre de SII sabe dizer o quanto é desconfortante a dor abdominal crônica. Pesquisadores da Sociedade Americana de Química em um experimento científico puderam trazer esperança para os portadores de SII.

Os pesquisadores identificaram uma molécula derivada do veneno da aranha capaz de bloquear os sintomas associados à dor crônica da SII com apenas uma dose. (Acesse este link para saber mais sobre esta pesquisa).

As pesquisas são uma esperança aos portadores da SII, que um dia poderão ter um tratamento mais eficaz, quem sabe a cura ou medicamentos mais eficientes, uma vez que nos dias atuais os únicos recursos são medicamentos paliativos, dietas, exercícios e terapia psicológica, que apenas amenizam os sintomas.

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