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Case-se com alguém igual ou melhor, caso contrário...

 Marisa Fonseca Diniz


Em algum momento da sua vida, com certeza, alguém já falou esta frase para você, sejam familiares ou amigos: Case-se com alguém que seja igual ou superior, caso contrário sofrerá as consequências.

O artigo de hoje é um alerta às pessoas que insistem em não enxergar a realidade dos fatos, e se deixam levar pelo emocional sem se darem conta de que podem estar caindo em uma cilada amorosa.

O amor é um sentimento sublime de carinho por outra pessoa, que não sufoca e nem força ninguém a se submeter ao outro como uma propriedade. O amor é compreensivo, quem ama respeita as escolhas do companheiro, não tenta excluir o parceiro de seu ambiente e nem promete algo que não irá poder cumprir com o tempo.

O amor muitas vezes é mais realista do que abstrato, o amor faz as pessoas enxergarem o que não é possível ver quando se está isolado. Vale a pena ressaltar, que quando alguém ama verdadeiramente, não fica cego, muito pelo contrário, a realidade se faz presente em todos os momentos. E é justamente sobre isso que vamos falar neste artigo.


Muitas pessoas ficam ansiosas para encontrar um parceiro para amar a vida inteira, e nesta ânsia acabam confundindo amor com paixão. A paixão, contrário do amor, é um sentimento avassalador, que não mede as consequências, muitas vezes impõe condições sufocando quem está na relação.

A paixão em geral está associada ao ciúme, que no início do relacionamento pode ser confundido com zelo, mas que depois com o tempo percebe-se que é um sentimento de posse. Não há nada pior do que entrar de cabeça em um relacionamento na esperança de resolver todos os seus problemas com um falso sentimento de amor, e perceber com o tempo, que a única coisa que encontrou foi na verdade um escape tóxico, que vai desgastando o físico e o emocional sufocando de tal maneira, que quando se olha para trás percebe-se que o tempo que passou não volta mais.

Observando ao redor podemos perceber que há muitas pessoas em busca de alguém que supostamente poderá fazê-las felizes, seja por ter uma vida mais abastada financeiramente ou rodeada por pessoas e situações glamourosas. A sensação de se sentir amado por momentos superficiais tem demonstrado, o quanto há pessoas dependentes de alguém que as façam feliz e completas.

Esta confusão de sentimentos associado à carência afetiva é dado o nome de dependência emocional. Para a psicologia a dependência emocional é quando um indivíduo permite que outras pessoas comandem seus sentimentos e emoções passando a depender delas para se sentir feliz, o problema é que esta dependência emocional impacta negativamente na autoestima do indivíduo.

É fácil perceber quando uma pessoa está completamente dependente da outra emocionalmente, pois ela tende não escutar conselhos diferentes do ciclo na qual ela vive, e ainda pode ser agressiva e insinuar que quem tenta alertar está com inveja de seu relacionamento perfeito, porque não encontrou alguém tão especial.

Aquele amigo que passava por depressão durante muitos anos e culpava seus antigos relacionamentos por não ser compreendido pode ser uma grande vítima dessa dependência emocional, quando encontra uma pessoa que o leva para um novo circulo de sentimentos muitas vezes por interesses próprios, por exemplo.

A amiga que cansou de relacionamentos passageiros, também pode sofrer de dependência emocional quando encontra o homem de seus sonhos, bem sucedido e com um grupo de amigos bem apessoados.

Quanto mais frágil estiver uma pessoa mais fácil será ela desenvolver a dependência emocional por outra pessoa. Palavras doces, que expressam aquilo que quer ouvir naquele exato momento é uma grande cilada para cair de cabeça na dependência emocional, quanto mais o tempo passa, menor é a possibilidade de se enxergar a situação tóxica na qual se encontra. Nem sempre casar com o companheiro, mudar de país pode ser a melhor solução para resolver os problemas profissionais ou emocionais, a vida pode ser mais bem resolvida, quando se aceita situações de fraqueza emocional. Buscar os profissionais adequados para tratar a depressão, a ansiedade ou a tristeza, por exemplo, pode ser a melhor solução. Nem todas as pessoas conseguem assimilar e nem enfrentar bem situações como desemprego, relacionamentos fracassados, falta de dinheiro, a morte de um familiar, entre outros, necessitando de ajuda profissional para superar estes momentos difíceis.

Em uma conversa amigável e descontraída com uma colega de profissão, a mesma relatou um caso de dependência emocional que ocorreu na família com sua irmã Charlotte, que quando jovem era uma pessoa comunicativa, cheia de contatos de todos os lugares, conquistava as pessoas com simpatia e amabilidade, mas sempre se sentia de alguma maneira vazia. Trabalhadora e expansiva, sua vida sentimental era cheia de altos e baixos com relacionamentos complicados. A vida profissional parecia ser glamourosa, no entanto, mal conseguia se equilibras nas contas.

Um dia por acaso, Charlotte conheceu uma pessoa pela internet, que despertou seu interesse em ir muito mais além do que apenas uma conversa informal. Noah era um galanteador sabia usar as palavras para conquistar Charlotte. Um homem jovem, estudado e bem sucedido, era tudo que Charlotte sempre sonhou.

Dias e meses se passaram até que um dia Noah enviou uma passagem de avião para Charlotte ir conhecê-lo em Sidney com todas as despesas pagas. Sem hesitar, Charlotte fez as malas e rumou à cidade do amado. Chegando lá, a garota de apaixonou pelo lugar, uma cidade grande muito diferente da paisagem bucólica a que estava acostumada a ver no interior dos Estados Unidos.

Noah era um homem alto, charmoso, inteligente e que chamava a atenção por onde passava. O professor universitário era um homem estudado bem diferente de Charlotte. Os dias ao lado do suposto amado foram sensacionais, ela pode conhecer várias pessoas e lugares. Noah foi envolvendo-a em seus gostos, rotinas e no circulo de amigos, inclusive em sua filosofia de vida mostrando à jovem que tudo aquilo era o verdadeiro paraíso na Terra. Charlotte voltou para sua cidade natal deslumbrada com tudo que vivenciou na Austrália.

Todas as suas angústias do passado, seus relacionamentos desastrados e sua falta de  perspectiva na vida estava ficando para trás, pois aquele príncipe encantado era tudo que ela sempre sonhou para sua vida, viver ao lado de um homem bonito, bem sucedido e que realizaria todos os seus desejos mais íntimos.

Alguns meses mais tarde Noah e Charlotte se casaram em uma cerimônia intimista só com alguns familiares para não causar alardes nos demais. Noah preferiu ficar na Austrália, onde lá já tinha uma vida estabilizada fazendo com que Charlotte se mudasse para o outro lado do mundo, longe de tudo e de todos.

Com o tempo Charlotte foi perdendo o contato com os amigos e alguns familiares, e acabou por ficar 100% dependente do marido e de suas decisões, Noah por sua vez conseguiu um emprego para sua esposa na loja de alguns amigos, a fim de que Charlotte se sentisse mais segura. Todas as decisões eram tomadas por Noah, para que a esposa se sentisse o mais confortável possível.

Depois de algum tempo, quando a depressão ameaçou aparecer,  Noah fez uma viagem com a esposa para saírem da rotina. O pouco contato que a família da Charlotte tinha com o casal, sempre era para escutar  que Noah era o homem perfeito, pois ele sempre tomava a frente das decisões, a fim de que a esposa não se estressasse com as rotinas do dia-a-dia.

Alguns anos se passaram até chegarem os filhos e Charlotte se tornar uma dona-de-casa, as viagens ficaram escassas, não tinha mais tempo para as redes sociais e os poucos contatos que possuia com outras pessoas foi desaparecendo. Ela já não tinha mais tempo para trabalhar fora e Noah pouco ficava em casa, a depressão já estava mais acentuada até que um dia Noah a internou em uma clínica psiquiátrica para tratamento. Os filhos raramente visitavam a mãe, o marido sempre sem tempo, e Charlotte apesar do tratamento não conseguia enxergar que sua dependência emocional pelo marido estava destruindo-a.

Algum tempo depois, um dos irmãos de Charlotte decidiu visitar a irmã para saber como ela estava, foi quando ficou sabendo que ela estava internada há alguns meses em uma clínica de tratamento para pessoas com distúrbios psiquiátricos. O irmão levou um susto, pois desconhecia que a irmã tivesse qualquer distúrbio que afetasse seu dia-a-dia. Ao visitar a irmã percebeu que ela estava muito debilitada emocionalmente e foi tirar satisfações com o marido.

Noah se mostrou ser um homem frio, sem sentimentos e nem um pouco preocupado com a situação emocional da esposa, sugerindo inclusive que o irmão a levasse para a cidade natal, pois Charlotte estava sendo um peso morto na vida dele e da família.

A dependência emocional, que Charlotte desenvolveu com o parceiro chegou ao ponto dela não enxergar a situação em que ela se colocou, pois o medo da rejeição por parte do marido era enorme passando a concordar com tudo que ele designava.

O relato pode parecer um drama retirado de um livro ou de um filme, no entanto é real, e pode acontecer com qualquer pessoa que se encontra emocionalmente fragilizada.

O psiquiatra britânico John Bowlby desenvolveu uma teoria por meio dos experimentos da psicóloga canadense Mary Ainsworth , que o levou a escrever a Teoria do Apego, Attachment Theory, composta por conhecimentos advindos da etologia, cibernética, processamento da informação, psicologia do desenvolvimento e psicanálise, onde é possível compreender os processos envolvidos nos laços emocionais de uma criança com sua mãe e as rupturas de tais laços provocadas pela separação, privação ou perda (luto).

A Teoria do Apego ou dependência emocional pode acontecer com qualquer pessoa, no entanto, muitas pessoas têm dificuldades de perceberem que estão inseridas em contextos que as deixam refém dos sentimentos que alimentam pelo outro. Os principais sintomas desta dependência emocional são os seguintes:

A dependência emocional tem tratamento e a pessoa precisa se reconhecer dentro deste contexto para procurar ajuda de um psicólogo. Pessoas emocionalmente dependentes em geral tiveram uma infância abusiva marcada por bloqueios ou falta de liberdade levando-as a desenvolver sintomas de carência, insegurança, sentimento de rejeição, medo da perda, baixa autoestima e excesso de subordinação.

É importante ligar o alerta, quando perceber que está passando por situações como estas dentro de um relacionamento. A toxidade dos relacionamentos pode colaborar para que a situação piore com o tempo. É de suma importância as pessoas entenderem, que o amor não sufoca ninguém, que as pessoas que estão inseridas dentro do relacionamento devem ter autonomia nas suas decisões, além de terem seu espaço individual respeitado valorizando os demais sem idolatrar ninguém.

A frase tema deste artigo reflete bem o que acontece, quando se assume um relacionamento com uma pessoa que pensa e age diferente dos nossos conceitos, pois as consequências podem ser realmente desastrosas. O melhor conselho é o seguinte:

Antes de se envolver com alguém, aprenda a se amar, se valorize, respeite os outros, não idolatre ninguém com medo da perda. E por último e não menos importante, entenda que quando estamos bem resolvidos com nós mesmos encontrar outra pessoa se torna uma tarefa simples!

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O trabalho Case-se com alguém igual ou melhor, caso contrário... de Marisa Fonseca Diniz está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://cafesonhosepensamentos.blogspot.com/2022/05/case-se-com-alguem-igual-ou-melhor-caso.html.

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