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A vida é um espetáculo!
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Marisa Fonseca Diniz
Nosso espetáculo começará pelo nascimento, pois a vida
brota a partir de uma semente, que germina durante longos 9 meses. A
expectativa pelo nascimento é enorme, principalmente quando o ser é muito
desejado ou pelo menos é o que todos esperam que seja.
Os primeiros dias de vida podem ser os mais difíceis, uma
difícil adaptação, tudo novo, novos ares e novos olhares. Não pense você que
será fácil reconhecer quem é sua mãe no meio de tantas pessoas que entram e
saem do seu quarto, já que você pode ser o novo “reizinho” da casa. Agora se
você não tiver esta sorte pode ser que vá morar em um lugar cheio de restrições
dentro de um cubículo apertado e ainda vai ter que dividir o seu espaço com
mais 100.
Finalmente a sua vida está caminhando a todo vapor ou aos
trancos e barrancos, você superou a fase mais difícil a da adaptação e comemore
porque você sobreviveu. Um ano de vida não é para qualquer um, quantas pessoas
nasceram no mesmo dia que você e não tiveram a sorte de continuarem vivas?
Diversas. Finalmente os dias andam e com eles você dá os primeiros passos e as
palavras fluem pela boca. Logo, logo vai para a escola enfrentar a
concorrência.
A vida anda e você já está bem grandinho, a vida é uma
beleza para quem tem um quarto só seu cheio de brinquedos modernos e
tecnológicos, no entanto, enquanto se vive em um cubículo no meio de uma
comunidade, a única coisa que se ouve são os tiros que regurgitam pelo ar
durante as madrugadas. Aproveitar o sol a beira da piscina rodeado de amigos,
não é para qualquer um, no entanto acordar cedo e ir trabalhar nos semáforos das
grandes capitais vendendo balas não é
nada fácil. Enquanto uns tem a oportunidade de fazer planos de viagem para
Europa, América do Norte ou Ásia outros tem que garantir a passagem de transporte público de volta
para casa.
Estudar na melhor escola da cidade, onde a classe média
alta é considerada “pobre”, colégio de rico é uma disputa constante para saber
quem é mais rico. Na mansão, o chofer aguarda o filho do “doutor” acabar de
tomar o seu café da manhã preparado pela cozinheira que está a mais de 20 anos
servindo os patrões, o uniforme limpinho lavado por uma das empregadas negras
que há anos cuida dos filhos dos ricaços, mal sabe o que é estar em casa
cuidando dos próprios filhos.
A vida parece ter um gosto adocicado para aqueles que
planejam passar as férias de final de ano em Dubai ou em Bora Bora, malas carregadas
de inutilidades fazem toda a diferença na hora de captar a melhor foto e assim
repassar aos amigos. Nada de passar as férias em lugares, onde os subalternos
insistem em viajar para se divertir.
Depois das férias é hora de voltar para casa, estressado
pela longa viagem feita no jatinho da família, cansado e pensando na profissão
a seguir, de preferência em uma universidade de primeira linha, médico,
engenheiro, advogado ou qualquer outra profissão que dê status, quem sabe trabalhar
como vice-presidente na megaempresa da família? A dureza da vida, nem sempre
permite pensar em fazer uma faculdade, já que desde muito cedo a única opção é
trabalhar para ajudar no sustento da casa, uma vez que todos tem o direito a
ter um teto e quem sabe comida no prato.
O presente por ter passado em uma universidade de
primeira linha foi a Ferrari toda equipada, sair com os amigos, ir às baladas
mais chiques da cidade não tem preço, conquistar a mulher mais linda de uma
família tradicional faz toda a diferença na vida de um ricaço. A maioridade proporcionou a compra de uma bicicleta
usada para facilitar a ida ao trabalho, já que o preço da passagem do
transporte público está nas nuvens. Imaginar que tudo poderia ser diferente se
tivesse nascido em uma família de classe social mais alta, mas sem tempo para
pensar nisso, pedala longos trajetos para chegar na casa do bacana e lavar sua
máquina possante com medo de riscar ou quebrar alguma coisa e ter seu salário
descontado no final do mês para pagar o prejuízo.
Trabalhar 12 horas por dia com uma equipe de funcionários
ineficientes que não compreendem que para ser um bilionário bem sucedido é
necessário fazer alguns sacrifícios na vida. O descanso merecido no final da
vida é ter o melhor plano de saúde, fazer megaviagens, ter vários funcionários
disponíveis 24 horas por dia para satisfazer o ego, ter carrões de luxo
na garagem para diversos momentos diferentes, além de muito, mais muito
conforto no seu palacete. Do outro lado da vida, agradecer por ter saúde e aos 80
anos de idade ainda continuar trabalhado para continuar pagando a casa que
ganhou com muito sacrifício do governo, sabe-se lá se conseguirá descansar um dia. Filhos e netos agradecidos por terem a oportunidade de um dia ter feito
uma faculdade, já que seus pais e avós não tiverem a mesma sorte.
A vida é realmente um espetáculo de puro mau gosto para
aqueles que não nasceram em famílias ricas e seus ascendentes viveram por anos
em uma senzala lutando pela liberdade, que quando a mesma chegou tiverem que se
submeter a viver em situações análogas à escravidão e a miséria por falta de
oportunidades. Enquanto o ricaço ri à toa por saber que jamais terá que fazer
qualquer sacrifício na vida, já que tem ascendência europeia, descendente dos
Barões do Café, dos Senhores das Senzalas, que com o tempo se tornaram
políticos que mandam e desmandam no país. Jamais saberão o que é passar fome, andar
de transporte coletivo lotado ou a pé por falta de dinheiro da passagem, imagina
saber o que é viver em um cubículo em uma comunidade qualquer, onde não há
banheiro, cozinha ou espaço vago para estudar.
Jamais saberá como é ser atendido por um médico advindo
da sua classe social, que não poupa de dar carteirada em seus pacientes pelo
prazer de pisar naquele que está abaixo da sua classe, jamais saberá o que é
trabalhar o dia todo com fome e ver seus filhos chorando porque não tem o
alimento básico na mesa, andar descalço, doente e com frio por não ter a
oportunidade de ter um teto.
A vida é realmente desigual quando temos um sistema
econômico que visa apenas o dinheiro sem dar condições para que todos tenham a
mesma oportunidade. Triste saber que muitos ignoram a miséria ao seu redor
simplesmente pelo fato de não fazerem questão de enxergar as desigualdades de
classe. A pandemia mostrou a todos nós que as pessoas continuaram cada vez
mais egoístas e arrogantes por se considerarem melhor do que as outras
como se o dinheiro fosse tudo para elas, o melhor emprego, o melhor carro, a
melhor casa, a melhor profissão não são capazes de esconder embaixo do tapete a
miséria pelo qual o mundo passa.
Dizer que o pobre é pobre porque quer é o mesmo que ignorar
as injustiças passadas e colocar a culpa na vítima, faça diferente, compartilhe
seus conhecimentos com aqueles que não tiveram a mesma chance que você de
estudar nas melhores escolas e faculdades.
A desigualdade
social a cada dia que passa fica pior, quando você for fazer uma
refeição pense naqueles que dormiram de barriga vazia e choram por não ter
condições financeiras para encherem a panela de comida. Entenda que ninguém é
melhor do que ninguém, pois hoje você pode ser uma pessoa rica e amanhã do nada
perder tudo e ficar pobre. Nunca sabemos o que nos espera no dia de amanhã, por
isso faça diferente, mude sua maneira de ver a vida e as pessoas, e quando der
vontade de humilhar alguém morda a língua e se coloque no lugar do outro.
E lembre-se, a vida pode ficar muito mais colorida quando
entendemos as diferenças e colaboramos para que as injustiças sejam corrigidas!
Artigo protegido pela Lei 9.610 de 19 de fevereiro de
1998. É PROIBIDO copiar, imprimir ou
armazenar de qualquer modo o artigo aqui exposto, pois está registrado.
O trabalho A vida é um espetáculo de Marisa Fonseca Diniz está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://cafesonhosepensamentos.blogspot.com/2021/05/a-vida-e-um-espetaculo.html.
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