Walcyr
Carrasco
Conheci uma mulher cujo filho de 14 anos queria um par de
tênis de marca. Separada, ganhava pouquíssimo como vendedora. Dia e noite o
garoto a atormentava com a exigência. Acrescentou mais horas à sua carga
horária para comprar os tênis. Exausta, ela presenteou o filho. Ganhou um beijo
e outro pedido: agora ele queria uma camiseta 'da hora'. E dali a alguns dias a
mãe estava abrindo um crediário!
Já conheci um número incrível de adolescentes que
estabelecem um verdadeiro cerco em torno dos pais para conquistar algum objeto de consumo. Uma garota quase
enlouqueceu a mãe por causa de um celular cor-de-rosa. Um rapaz queria um MP3.
Novidades são lançadas a cada dia e os pedidos renascem com a mesma velocidade.
Pais e mães com frequência não conseguem resistir. Em
parte, por desejarem contemplar o sorriso no rosto dos filhos. Uma senhora
sempre diz:
— Quero que minha menina tenha o que eu não tive.
Pode ser. Mas isso não significa satisfazer todas as
vontades! Muita gente é praticamente chantageada pelos filhos. A crueldade de
um adolescente pode ser tremenda quando se trata de conseguir alguma coisa. Uma
vez ouvi uma jovem gritar para o pai:
— Você é um fracassado!
Já conheci uma garota cujo pai se endividou porque ela
insistiu em ir à Disney. Os juros rolaram e, dois anos depois, ele vendeu a
casa para comprar outra menor e quitar o empréstimo. Outro economizou centavos
porque a menina quis fazer plástica. Conselhos não adiantaram:
— Você é muito nova para colocar implante de silicone.
Ficava uma fúria. Queria ser atriz e, segundo afirmava,
não teria chance alguma sem a intervenção. (Não conseguiu. Hoje trabalha como
vendedora em uma loja.) Procedimentos estéticos, como clareamento de dentes,
spas e, claro, plásticas, são muito pedidos, ao lado de roupas de grife,
excursões, joias, celulares e todo tipo de eletrônico. É óbvio que o jovem tem
o direito de pedir. O que me assusta é a absoluta falta de freio, a insistência
e a total incompreensão diante das dificuldades financeiras da família.
Recentemente, assisti a uma situação muito difícil. Mãe
solteira, uma doméstica conseguiu juntar, ao longo de anos, o suficiente para
comprar uma quitinete no centro de São Paulo.
— Vou sair do aluguel! — comemorou.
A filha, 16 anos, no 2º grau, recusou-se:
— Quero um quarto só para mim!
Não houve quem a convencesse. A mãe não conseguiu
enfrentar a situação. Continuam no aluguel. O valor dos apartamentos subiu e
agora o que ela tem não é suficiente para comprar mais nada.
Muitas vezes, os filhos da classe média estudam em
colégio particular ao lado de herdeiros de grandes fortunas. Passam a desejar
os relógios, as roupas, o modo de vida dos amigos milionários.
— De repente a minha filha quer tudo o que os coleguinhas
têm! Até bolsa de grife.
Uma coisa é certa: algumas equiparações são impossíveis.
A única solução é a sinceridade. E deixar claro que ninguém é melhor por ter
mais grana, o celular de último tipo, o último lançamento no mundo da informática.
Pode ser doloroso no início. Também é importante não criar uma pessoa invejosa,
que sofre por não ter o que os outros têm. Mas uma família pode se
desestabilizar quando os pais se tornam reféns do pequeno tirano. A única saída
para certas situações é o afeto.
E, quando o adolescente está se transformando em uma
fera, talvez seja a hora de mostrar que nenhum objeto de consumo substitui uma conversa
olho no olho e um abraço amoroso.
Ensine seu filho a ser uma pessoa de caráter e não uma pessoa mimada,
que acha que o mundo gira em torno de si!
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